O que a alma escreve...
Olá a todos,
Desta vez calhou-me a mim abrir as portas do meu Mundo.
Tenho o privilégio de pertencer a equipa da ALC há uns bons anos e este percurso tem sido sempre enriquecedor. Ao longo desta caminhada, vi a escola crescer, o staff aumentar, as aulas a diversificar cada vez mais e por consequência, a equipa de professores.
Isto já foi dito anteriormente, mas a verdade é que este espaço não é apenas um local de trabalho. É um local de troca de energias, de partilha de conhecimento, mas acima de tudo é um espaço diário no qual todos engrandecemos.
Leciono na escola o que foi apelado de Ragga/Hip-Hop. Esta terminologia mantive-a desde sempre pois nas nossas aulas, há um abordar de vários estilos. Trabalhamos desde o Dancehall, House e Hip-Hop. O termo Ragga era o que se chamava à cultura quando surgiu, ou chegou ao nosso conhecimento em Portugal. Desde então, o termo evoluiu para Dancehall. Tema esse que já foi debatido inúmeras vezes e no qual, simplesmente acredito que cada um sente as coisas do seu jeito. Por acompanhar e seguir a cultura decidi manter o mesmo nome e não o apelidar por aquilo que é chamado hoje, simplesmente pela minha visão daquilo que eu mesma acredito. Pelo meu próprio estilo de diversificação e por não gostar de catalogar nem categorizar em demasia, mantive a terminologia assim como o próprio flow da aula.
Mais do que um nome, costumo prender-me ao que sinto quando a música me transporta e foi justamente isso que me cativou neste espírito e nesta cultura quando surgiu em Portugal. Estando já integrada na cultura do Hip Hop quando o “Ragga” emerge, sinto uma liberdade que nem sempre sentia noutros estilos. A mesma coisa acontece quando entra o House na minha vida. Uma liberdade nos pés, uma fluidez do corpo e um espírito mais leve.
Isto tudo fez-me fazer aquilo que faço hoje. Não me prendo em estilos musicais nem em passos definidos, mas sim na leveza que a música me proporciona quando a arte entra.
Perguntam-me muitas vezes qual o estilo que mais gosto de dançar. E a minha resposta é sempre a mesma: “O que danço e como danço enquanto arrumo a casa ou em qualquer tarefa de bastidores.”
Essa reflexão diz-me muito mais de um artista que está num cenário quotidiano a escrever com o corpo o que lhe vai na alma, do que assistir a grandes espetáculos em que tudo é mais favorecido. Essa leitura de alma e nos olhos mostra muito mais do que o resto e é justamente esse olhar e esse brilho que procuro e encontro muitas vezes nos meus “mais que tudo” na ALC.
Tenho o privilégio de exclamar em voz alta que tenho uma das mais bonitas profissões do Mundo!
Somos responsáveis por criar sonhos e borboletas na barriga, encaminhar as nossas crianças para um Mundo único no qual cada um tem o seu lugar e cada um é especial. A dança é a ferramenta que usamos para que o palco da vida seja mais bonito. A cada aula há crescimento, não só de conhecimento ou de passos, mas sim de pessoas. Crescimento esse que não acontece só com os alunos, mas connosco, professores, também. Sendo que, a cada aula nós também nos transformamos e aprendemos ou reaprendemos o básico da vida – ser e estar.
Espero perpetuar a palavra desta arte por muito tempo e continuar a ter no meu caminho o que sempre tive: alunos de coração aberto, pais que os apoiam e que fazem muitas vezes das “tripas coração” para os seus rebentos puderem estar ali, assim como também colegas de trabalho humildes que queiram sempre aprender mais uns com os outros e “bossinhos” que nos permitem sermos nós mesmos – acreditem que isso vale muito e para nós conseguirmos ter essa “liberdade” ele lutam diariamente.
Falamos muitas vezes dos professores e dos alunos, mas esquecemo-nos muitas das vezes de todos aqueles que estão no silêncio e sem os quais nada disto seria possível desta forma.
Por isso, aos grandes guerreiros que estão por trás dos bastidores e a quem devemos muito também, são eles os PAIS, o STAFF técnico (receção, administração, às vozes que nunca cansam atrás dos telefones), aos fotógrafos, aos técnicos de som e de vídeo, aos patrões, aos resolvedores de problemas imediatos e tantos outros que o Alzheimer não recorda de imediato.
Esqueçamos um pouco os professores e enaltecemos quem deveras merece. Todos os anteriormente enumerados, mas principalmente os nossos pequenos artistas porque é com a ajuda e o trabalho de todos que conseguimos dar-lhes e alcançar muito mais.
E sabes porquê? Porque no final de tudo, é só isto que levamos desta vida!
Até já :)
Bisous bisous partout